Temas Livres do LIII Congresso Brasileiro de Cardiologia

 

TL 467

Regressão no contexto hospitalar: um estudo de caso

Andréa Satrapa, Silvia M.C. Ismael

Hospital do Coração, São Paulo, SP

 

Vários autores, como S.Ferenczi, M.Balint e D.W. Winnicott, enfatizam os aspectos terapêuticos da regressão; dentre eles, os estudiosos da psicossomática, que destacam ainda sua relevância no processo de cura.

O conceito de regressão remete ao que é infantil, primitivo, relativo a um momento anterior do desenvolvimento. Estudar a ocorrência deste fenômeno no contexto hospitalar e sua relação com processo de cura, na dinâmica psíquica do paciente, é o objetivo deste trabalho.

Tal estudo será feito por meio do relato de um caso.

Trata-se de um paciente do sexo masculino de 65 anos, diabético, delegado de polícia aposentado, submetido a uma cirurgia de revascularização de miocárdio e que permaneceu hospitalizado por 11 dias.

O material apresentado foi colhido durante os atendimentos rotineiros de acompanhamento psicológico pré e pós-cirúrgico.

O comportamento do paciente nos três primeiros dias depois da operação (dois dias passados em UTI e um dia já no quarto), contrastando nitidamente com suas atitudes no período pré-operatório, mostrou-se bastante regredido: ficou choroso e exigia atenção constante dos atendentes e dos familiares; reclamava ainda a presença da mãe, mesmo sabendo que ela já falecera. O trabalho psicoterápico consistiu em proporcionar continência a esses conteúdos e, a partir das associações do paciente, dar-lhes sentido. Assim, tanto os familiares que o acompanhavam como a equipe que o atendeu, orientados quanto ao valor terapêutico dessas vivências, puderam também suportar seus movimentos regressivos, que no quarto dia após a cirurgia estavam praticamente superados. A alta hospitalar ocorreu no oitavo dia de pós-operatório.

O trabalho psicoterapêutico com o paciente e a intervenção junto à equipe, visando facilitar a continência dos movimentos regressivos, têm enorme importância na recuperação do doente. A regressão apresentada por pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas é parte inerente ao processo de cura e proporciona, também, a possibilidade de vivências psicológicas profundas, que permitem a apropriação de aspectos do self até então dissociados.