Dário Sobral: Coração já mata menos nas aumenta o número
de doentes
Da mesma forma que ocorreu nos países desenvolvidos, o Brasil
está chegando ao ponto em que o coração começa a matar menos gente, graças aos
avanços da Medicina e às novas tecnologias mas, em compensação, a morbidade está num
crescendo e cada vez mais gente sofre de doenças cardíacas. Essa colocação é do
presidente do LIV Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, para quem essa nova
realidade representa um grande desafio para o médico que, além da missão curativa,
passa a ter obrigação de prevenir as doenças, convencendo o paciente a mudar seu estilo
de vida, para evitar que a doença se instale.
Esta é a grande mensagem do Congresso que está se realizando, à
medida em que permite a atualização dos cardiologistas de todo o Brasil, que estão
conhecendo os mais recentes estudos e conquistas da Cardiologia, transmitidos diretamente
da fonte, pela boca dos maiores especialistas do mundo, especialmente convidados para
falar no evento.
O otimismo do cardiologista pernambucano se explica pelos primeiros
números registrados, mais de três mil inscritos no pré-congresso e 760 médicos
participando do concurso para recebimento do título de Cardiologista, um número recorde,
resultado da crescente importância da especialidade. Essa nova geração de
cardiologistas é um reforço importante na luta do cardiologista para salvar vidas e para
permitir que através de uma prevenção adequada, o País não tenha mais necessidade de
gastar tanto em internações e cirurgias que poderiam ter sido evitadas.
O cardiologista voltado para a prevenção não poderá porém atender
o cliente em cinco minutos, dar um remédio e simplesmente mandar o paciente voltar em 15
dias ou um mês, insiste Dário. Numa mudança de mentalidade que não diz respeito apenas
ao médico, mas aos hospitais, aos serviços públicos e ao Governo, o cardiologista terá
que conquistar o tempo de que precisa para convencer efetivamente o paciente a vencer os
fatores de risco, a reduzir o estresse, a abandonar o fumo, a ter uma alimentação
saudável.
O exemplo do presidente do Congresso é a hipertensão: apesar de 20%
da população brasileira ser hipertensa, só metade sabe dessa condição, e dessa
metade, apenas 50% se submetem a algum tipo de tratamento e dos que se submetem a
tratamento, novamente apenas metade está sendo devidamente controlada por seu
cardiologista. E o custo dessa lacuna é imenso, conclui Dário, pois um único dia de UTI
de um hipertenso que não foi tratado e evoluiu para um enfarte, é muitíssimo mais caro
do que o tratamento preventivo por anos a fio, e isso contando apenas o custo médico, sem
levar em conta o prejuízo da sociedade como um todo, ao perder temporária ou mesmo
permanentemente um elemento que foi longamente educado e preparado para dar décadas de
retorno, muitas vezes desperdiçadas pela falta de uma prevenção adequada.