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Os testes bioquímicos e os métodos de imagem utilizados para o rastreamento e localização dos tumores têm, usualmente, pouca sensibilidade e especificidade. Isto explica por que muitas vezes o diagnóstico correto se torna difícil, predispondo os pacientes às conseqüências por vezes catastróficas da liberação de significativa quantidade de catecolaminas pelo tumor, em resposta a estímulos por vezes banais. Corretamente diagnosticado, e adequadamente tratado, o feocromocitoma é curável; quando não, acaba tendo curso fatal(3). A suspeita clínica emerge diante das manifestações de efeitos fisiológicos e farmacológicos do excesso de catecolaminas e que incluem: hipertensão arterial sustentada e resistente ao tratamento convencional; crise hipertensiva manifestada sob a forma de hipertensão maligna, encefalopatia hipertensiva, infarto do miocárdio ou dissecção aórtica; e episódios paroxísticos de convulsões, ansiedade e hiperventilação pulmonar. Mais raramente, o feocromocitoma pode causar hipotensão e choque ou hipertensão severa na vigência de cirurgia ou trauma. A tríade clínica cefaléia, sudorese e palpitações deve sempre levantar a suspeita de feocromocitoma, apresentando sensibilidade de 89% e especificidade de 67% no diagnóstico da doença(1). Em uma série de 21 mil hipertensos, a ausência destes sintomas praticamente excluiu o diagnóstico(4). A Tabela 1 mostra a freqüência de sintomas descritos em uma série de casos de cem pacientes com feocromocitoma(5).
Diagnóstico do
feocromocitoma (ver Figura 1)
O diagnóstico depende de se estabelecer uma estratégia
para demonstrar excesso de catecolaminas e
de seus metabólitos no plasma e na urina. A Tabela 2,
do National Institute of Health (NIH) dos Estados
Unidos(6), reproduz os principais testes bioquímicos de
dosagem das catecolaminas, as respectivas metodologias
e situações onde o tumor é considerado improvável,
possível ou provável, tendo como referência as concentrações
de catecolaminas ou seus metabólitos no sangue
e na urina.
Qual seria o melhor teste
bioquímico para excluir o
diagnóstico de
feocromocitoma?
A pergunta é importante. Excluir o diagnóstico
de feocromocitoma por conta de um resultado falso
negativo pode representar graves conseqüências, inclusive
fatais, ao paciente. Em contrapartida, um
resultado falso positivo tem impacto menor, pois
poderá ser refutado posteriormente por outros procedimentos(
6).
A abordagem para se comprovar bioquimicamente
o excesso de catecolaminas é fundamental
para o diagnóstico da doença, embora apresente algumas
limitações que precisam ser consideradas: 1)
as catecolaminas e seus metabólitos são liberados
pelas terminações nervosas simpáticas e pelas
adrenais, não sendo, portanto, específicas de feocromocitoma,
podendo elevar-se não só em condições
fisiológicas, como em vários outros estados
patológicos; 2) não é infreqüente um feocromocitoma
secretar catecolaminas intermitentemente; 3)
alguns tumores não secretam catecolaminas em
quantidade suficiente, por isso não são sintomáticos
nem alteram os ensaios bioquímicos. Assim, os
testes comumente empregados para se estimar as
catecolaminas no plasma e na urina, ou mesmo outros
ensaios bioquímicos, como a mensuração da
cromogranina A, não excluem nem confirmam, de
modo confiável, um tumor(8).
Várias interferências analíticas explicam os resultados falsos positivos. Medicamentos como acetaminofen, antidepressivos tricíclicos, inibidores da monoaminoxidase e fenoxibenzamina ativam reflexamente o sistema nervoso simpático e devem ser suspensos pelo menos 72 horas antes da coleta de san- gue. A composição da dieta também interfere no ensaio, recomendando-se que bebidas cafeinadas e descafeinadas sejam interrompidas 12 horas antes da realização do exame. A obtenção da amostra de sangue deverá ser feita somente após o paciente permanecer deitado, em repouso, por pelo menos 20 minutos, a fim de se evitar a ativação fisiológica do sistema simpático. Lembrar, também, que insuficiência cardíaca, hipertensão renovascular e disautonomia são situações que se associam a hiperatividade simpático-adrenérgica e podem contribuir para resultados falsos positivos(13).
Testes de supressão e estímulo
Se ainda persistir qualquer dúvida sobre a
positividade das metanefrinas no plasma, o procedimento
subseqüente é mensurá-las novamente, pois, como
são produzidas continuamente pelo tumor, a repetição
de valores normais exclui a suspeita de feocromocitoma.
Se permanecerem elevadas, solicita-se o teste de supressão
pela clonidina.
Localização do
feocromocitoma
A tomografia computadorizada tem sensibilidade
de 93% a 100% para detectar feocromocitomas localizados
nas supra-renais(19, 20). Nos casos de tumores
extra-adrenais, a sensibilidade diminui para menos de
90%(21). Em contrapartida, a ressonância nuclear magnética
tem sensibilidade igual ou menor para tumores
adrenais, mas é superior para detectar tumores extraadrenais(
19, 20). Ambos os métodos têm, porém, baixa
sensibilidade, que pode chegar a 50%, em virtude de
revelarem, com relativa freqüência, massas nas suprarenais
que não são feocromocitomas(22, 23).
Se os resultados da tomografia computadorizada e
da ressonância magnética forem negativos, deve-se solicitar
a repetição de uma destas técnicas de imagem para
o rastreamento de corpo inteiro em busca de
feocromocitomas, muitas vezes diminutos e localizados
em sítios anatômicos como tórax, áreas justacardíacas e
justavasculares(20, 24). |