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Seção de Eletrocardiograma

Eletrocardiograma da Semana

ECG da semana

DADOS CLÍNICOS:
Paciente masculino, 65 a., diabética e hipertensa, atendida no PS, plitraumatizada.

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Dr. Pastore e-mail: ecg_pastore@incor.usp.br

DESCRIÇÃO DO ECG
Uma paciente de 65 anos, em tratamento de diabetes e hipertensão arterial, é internada no Hospital das Clínicas, politraumatizada por atropelamento. Estava torporosa, com insuficiência respiratória por pneumotórax, que foi drenado, e condições cardiocirculatórias estáveis. A tomografia do crânio revelou hematoma subaracnoide. O ECG mostrado abaixo (ECG 1), revelou ondas T negativas gigantes na maioria das derivações. Suspeitou-se de insuficiência coronária aguda. Os níveis séricos de enzimas elevaram-se discretamente mas o ECG se manteve inalterado. Foi averiguado que a paciente havia feito cateterismo cardíaco há 6 meses, e a coronariografia revelara ausência de obstruções significativas. Nessa ocasião o ECG exibia apenas sinais de sobrecarga ventricular esquerda, com inversão da onda T secundária à hipertrofia (ECG 2).

COMENTÁRIOS
Ondas T negativas gigantes, com amplitude maior que 10 mm em pelo menos 2 derivações, são encontradas em poucas condições: insuficiência coronária aguda, lesões cerebrais graves e cardiomiocardiopatia hipertrófica apical. As ondas T isquêmicas são, em geral, simétricas e relacionadas a uma determinada parede do miocárdio ventricular, correspondente à coronária comprometida. Tais alterações foram atribuídas à reperfusão do miocárdio. As assim chamadas “ondas T cerebrais” são ondas T negativas gigantes, difusas e acompanhadas de desnivelamento do segmento ST e importante aumento do intervalo QT. São relatadas mais comumente em casos de hemorragia cerebral e atribuídas à intensa disfunção autonômica causada pela lesão cerebral aguda. Tal é o grau de repercussão cardíaca nesta condição que autores a caracterizaram como tempestade de catecolaminas. Descreveu-se até surgimento transitório de ondas Q na ausência de necrose (síndrome de miocárdio atordoado). Estudos anátomo-patológicos revelaram miocitólise focal em alguns casos. Estas alterações anatômicas e o prolongamento do QT no eletrocardiograma são condições que predispõem à ocorrência de arritmias ventriculares malignas e morte súbita. Na hipertrofia apical (doença de Yamaguchi) as ondas T são negativas apenas de V1 a V3, opondo-se a ondas R com aumento de amplitude nestas mesmas derivações. No caso apresentado a maioria das ondas T são negativas e opostas ao QRS em quase todas as derivações. O segmento ST encontra-se infradesnivelado e a amplitude máxima de T atinge 18 mm abaixo da junção PQ. O intervalo QT medido é de 440 ms e o QTc 504 ms. O QRS exibe hipertrofia ventricular esquerda por critério de amplitude (Sokolow e Lyon) e ausência de área inativa.

REFERÊNCIA
Friedmann AA, Grindler J & Fioraneli AA – Ondas T negativas gigantes. Diagnóstico & Tratamento, 7(2):35-36, 2002.

CONCLUSÃO
As marcantes alterações da onda T encontradas neste caso, em nossa opinião, são características de repercussão eletrocardiográfica de injúria do sistema nervoso central (ondas T cerebrais).

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